sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Silêncios

 

“Silêncios”

Nesse intervalo,

Entre duas batidas

do coração

Está o silêncio.

Ignorado, esquecido,

Em que passam adiante,

indiferentes.

Mas eu lá estou.

Vendo um olhar,

insondável, mas que conheço.

Que tudo diz, que tudo sabe,

Sedutor,

Valioso,

Puro,

Uma estrela solitária,

Nesse universo desconhecido.

Agora conhecido por mim,

por isso, jamais sozinho.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Amelie Battle Bastos 2005 - 2022

 

"Amélie Battle Bastos"


Fui á paragem onde Amélie apanhou o autocarro
para a praia.
Quando lá entrou, era apenas um coração que batia,
numa mente onde o passado e o presente já não existiam.
Por lá passei hoje, olhando com atenção o asfalto,
hoje chão sagrado,
e vendo os olhos de quem passava,
não vi a simples humanidade,
mas o reflexo de uma luz,
que não se apaga jamais.

sábado, 30 de outubro de 2021

A vendedora de flores



"A vendedora de flores"

A vendedora de flores,

Desceu pela rua, bateu às portas,

E ninguém abriu, ninguém ouviu,

E lá continuou, trazendo no cesto, cravos, rosas e jasmim,

De cheiros inebriantes e cores vibrantes,

Mas nada entregou nessas casas,

Onde se cheirava a suor, 

E em outras tantas a pocilgas e lixo,

Ninguém a via sequer, 

Lá de dentro, dos quartos sujos e escuros,

De tanto se olharem ao espelho,

De tanto falarem ao mesmo tempo.

Até que parou na minha frente,

E depositou nas minhas mãos um ramo, 

Sem pedir nada em troca, 

Sem nada falar,

E com um breve afago, 

foi embora, até desaparecer de vista.

Nunca mais a vi,

As flores estão guardadas

Entre as páginas de um livro

Que folheio raramente,

E o perfume do ramo que ela me deu,

Está sempre nas minhas mãos.






domingo, 24 de outubro de 2021

Uma história



"Uma história"

Ontem ao cair da noite,

Pediram-me um texto,

De amor, de dor, do que for,

Mas sei que nada vão entender

Pois o que tenho a dizer, só eu sei,

Só eu entendo,

Só eu conheço os verbos, 

e principalmente os adjetivos,

Toda a gramática, fui eu que inventei,

Língua estranha que só tem um nome 

Um só,

Escrita em pressentimentos, 

Expressa em sensações, 

Transmitida num único olhar,

No entanto, poderia escrever sem parar,

Durante horas, e ainda assim

nada seria entendido,

Pois para ligar os adjetivos aos verbos

e dar sentido a tudo,

É preciso conhecer o nome.

Conhecer sem reservas,

Talvez Amar?

E esse nome,

Comum, entre tantos,

Com tão poucas letras,

Letras que todos conhecem

mas não as sabem combinar,

Ou se as combinam, distraídos, passam adiante,

Lendo algo banal,

Não conhecendo assim toda a história,

que eu conheço, 

ainda que não seja a minha.

















quarta-feira, 8 de setembro de 2021

O Barco

 


"O Barco"

Quis procurar a terra prometida,

em mares já dantes navegados,

repletos de monstros e quimeras,

mascarados de luz 

e banhados em perfumes 

quentes e exóticos,

nessas águas que sabia serem escuras, 

escuras de um asco peganhento

que se agarrava ao casco,

num mar sem vento,

e ainda assim o barco ia

impelido pela névoa escura,

rápido, muito rápido,

sem hipótese de voltar para trás,

até se desmanchar completamente

numa praia incógnita,

em pedaços dispersos e sujos,

que rapidamente foram cobertos pela areia,

na esperança do esquecimento

da omnisciência intemporal,

que tudo regenera, 

em paciência infinita,

impelindo para outros mares,

criados antes mesmo 

da madeira que fez o barco ser árvore,

para ele navegar, e só ele.






quinta-feira, 13 de maio de 2021

O Orgulho



"O Orgulho"


Nos silvados, emerge uma flor branca, orgulhosa

rainha do mundo, comandante de legiões,

as formigas a servem, os pássaros a bajulam

o vento a elogia, o sol a aquece,

a chuva, são as lágrimas dos deuses,

esmagados por tanta perfeição,

as ervas dançam, apenas para a agradar,

os astros rodam, e alinham-se,

mesmo os mais distantes,

ajoelhar-se-iam se pudessem,

mas contentam-se em rodar fitando ao longe,

aquela que dá luz, o alfa e o ómega da criação.

Até ao dia em que passou o jardineiro,

a cortou, juntamente com outras iguais,

levou para um forno, secou,

e servem agora, como pasto para os animais,

pasto que a urina apodrece,

e que o tempo desfaz em pó, 

onde nem a simples fragrância ficou

nas lembranças de quem  passou.



quinta-feira, 4 de março de 2021

A Escola




Naquele primeiro dia
sem entender, com medo,
chorei, quis fugir,
mas fui levado pela mão,
todos os dias,
pela minha professora
de seu nome Elvira.
Esse caminho,
que eu trilhei,
e também ela,
chegando ao fim desses anos,
quatro que se evaporaram,
acabando a infância, 
abriram-se mundos novos,
mundos escritos em tinta e papel,
que ela nos iluminou.
E  por lá passo ainda hoje,
descendo a rua, 
espreitando por essa janela,
da sala agora deserta,
onde se projetam ainda
essas imagens do passado, 
e me sento novamente
nessa mesa,
onde sou novamente criança, 
agora alegre,
onde o medo não existe mais.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Padre Américo

 


"Padre Américo"


Julgávamos ser um homem

Aquele que caminhava

Procurando por aqueles

Que ninguém via, conhecia sequer,

Chamado sonhador, num trabalho sem fim

De frio e fome, estendia a mão,

Vestindo ele a roupa dos envergonhados,

Dizia procurar tesouros, nas barracas abjetas,

E todos se riam,

Não sabíamos nós,

Que os tesouros eram de carne e sangue,

Homens em potência, perdidos no presente,

Pequenos salvadores da humanidade no futuro,

Julgávamos ser um homem, 

Mas era feito de luz,

Nobre timoneiro,

Que já não está ao leme,

Mas a barca vai, segue o seu caminho,

Soprada pela brisa,

Que ninguém sabe de onde vem

Mas o rumo é certo, para onde vai.


sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

O Salto em frente


"O Salto em frente"


O vento agreste,

nessa noite fria,

na cama vazia

afogado aí,

como num mar revolto

onde nem Deus caminhava

nem estendia a mão,

viu essa tímida luz

e agarrou-a.

Acordou criança,

como naquela manhã

em que o sol

tocava no chão do quarto,

e se levantou expectante,

para essa praia

em que os grãos não eram de areia

mas de luz, calor, 

de um doce sabor,

aí permaneceu

até ser velho

e ainda assim criança,

num  perpétuo presente,

amor e eternidade,

como numa história jamais acabada.






quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Ela

 



"Ela"


Gosto de uma mulher,
talvez a ame, 
sem nunca a conhecer
nem nunca lhe falar,
pois está morta, 
á muitas gerações,
e para além disso
era enamorada
pela eternidade,
onde não tinha espaço
no seu coração
para ser ocupado,
por mais ninguém.
Toco na luz
impressa na velha fotografia
e chego ao passado
ou ao presente, não sei,
pois me sorri
e estende a mão,
e logo entendo,
que afinal o tempo
é só uma ilusão.








domingo, 12 de julho de 2020

Poema Leonardo

A escola sem alunos 
E sem ninguém para ensinar 
A biblioteca vazia 
Sem ninguém a pesquisar 
A cantina sem ninguém a petiscar 
No corredor não tem ninguém a correr 
No campo de futebol não tem ninguém a jogar 
Na escola toda, só tem o vírus a passar

terça-feira, 19 de maio de 2020

A Pandemia



"A Pandemia"



Naqueles dias
tiveram medo
não se tocaram
ficaram em casa
cada um no seu quarto
onde o passar dos ponteiros
causava sobressalto
e lá aprenderam
que não conseguiam estar sós
que eram estranhos
numa terra restaurada
não os senhores
mas os filhos
ainda que adotivos
perdidos nesse paraíso
que iam maculando,
nos rios que sujavam
nas florestas que queimavam
no ar que manchavam,
mesmo sendo avisados
lá continuaram
até aos dias do grande medo
onde alguns aprenderam
e outros não...


sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Auschwitz

"Auschwitz"


Nesse dia cheio de sol,
em que os pássaros voavam lentamente,
como o tempo,
de um relógio que abranda, sereno,
chegaram hesitantes,
olhando aqueles canteiros cheios de flores,
Flores no esplendor da sua beleza,
sentiram esse cheiro que se exala,
mas não inebriava,
as flores cheiram a carne queimada,
carne que é pó, um pó seco insuportável,
e os pássaros são corvos,
de um olhar negro, baço,
se é que existem mesmo,
E os sons ao longe, são lamentos,
Lamentos que o vento transporta ainda,
Reprimidos por aquelas mães,
Que tudo adivinharam,
E não existem mais.





segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

O olhar...



"O olhar…"


Nesse leito,
recebi o último beijo,
o mais forte de todos,
que se perpetua ainda hoje,
e nesse breve olhar,
sorridente apesar de tudo e
em jeito de despedida,
mas que na realidade
quer apenas acompanhar-me,
como um som,
que se dilui,
no compasso do coração,
daqueles a quem,
o amor eleva,
dando ao tempo,
um significado vão.


quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Estrelas que brilham

"Estrelas que brilham"


Não sei o que fazer dos pensamentos
pois são estrelas que brilham,
longe, muito longe, onde a escuridão aperta
e oprime em distâncias incomensuráveis,
mas que ainda assim se tocam
de uma forma misteriosa.
Dizem os antigos,
que a cola que os mantêm,
é o amor,
não esse romântico, mas o puro,
logo quimérico, felizmente,
onde o que não se vê
subsiste enfim, para além do princípio e do fim,
para além de tudo, até de nós.


quinta-feira, 10 de outubro de 2019

A Alma


"A Alma"


Eu quero ser uma alma,
branca, mas não como a neve,
semelhante a aquela luz
que ofusca, e não magoa,
que cega, mas esclarece,
luz que termina de repente, 
todas as dúvidas, todos os medos.
Luz que guia pela mão,
sem sentir sequer o chão,
ou o destino e que ensina, 
que a escuridão
nada mais é, 
do que uma simples ilusão.




quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Pulsar da Terra

"Pulsar da Terra"


A lua sorriu lentamente,
nessa noite serena,
onde o orvalho era feito de luz,
esse orvalho que caía suavemente,
para pousar lânguido no chão.
Essa lua, que me compreende,
nesse sorriso, que só eu vi,
pois nele demonstrou conhecer-me.
Ela me falou através da brisa cálida, que aquece o interior,
esse instante onde a harmonia do universo
convergiu em mim, onde só o presente existia,
presente esse onde ouvi ao longe sons de
de tambores que ecoaram nas savanas,
e á luz das estrelas,
lançaram a sua mensagem,
a mesma que pulsa no coração da terra,
que pulsa no coração de nós.


quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Enganos




"Enganos"


Pensas que leio sequer o que escreves?
enganas-te,
rio-me de ti
das tuas linhas, tiro nada,
como se uma folha em branco estivesse presente.
Os teus sonhos, são para mim
imagens vazias, nevoeiro apenas,
eu que não te leio
apenas te elogio
para que acredites em mim.
Acorda, não sejas vaidosa,
Pessoa e Camões morreram
E não voltarão jamais.

sexta-feira, 29 de junho de 2018

Ruínas

"Ruínas"


Aquela rua estreita,
íngreme,
onde apenas as silvas dizem presente,
espaços onde a natureza selvagem,
esconde o passado,
em ruínas dispersas de pedras, cheias de musgo,
subo lentamente a calçada
tocando nessas paredes.
Paro brevemente
ali, onde se construiu o presente,
ouço risos de crianças,
que passam por mim, sem me ver,
aqueles que viveram,
se perfilam de novo
como que para um retrato,
só aí me conhecem e
se evolam a sorrir,
num adeus sem palavras...

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Essência da Vida


"Essência da Vida"


A criança perdeu-se pelo mundo, e chorou...
perdida em cada olhar, chamou...
e então encontrou,
a essência da vida que era a sua,
e nela, todo o Universo desconhecido.
E só no fim...
com o coração cheio de amor,
abriu os seus braços
e sorriu...

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Notas Musicais


"Notas Musicais"


Notas musicais
que ecoam na noite,
passos que se aproximam
timidamente...
Escuto vozes que conversam ao longe,
vislumbro agora
imagens que aparecem
como um filme,
refletidas nas paredes
da casa vazia,
e surpresa, sinto o cheiro
daquela comida
que logo se desvanece...
Avisto ao longe um raio de luz
que passa, naquelas portadas semicerradas,
percorro lentamente o corredor
expectante,
e aí estendo a minha mão
a essa luz,
que me leva ao passado,
viro-me para trás, sou criança e
corro alegremente,
até te encontrar,
onde sempre estarás.





segunda-feira, 12 de março de 2018

Pétalas do Outono


"Pétalas do Outono"


Pétalas do Outono
são como memórias perdidas
que se desprendem ao vento
e são levadas por um pássaro,
que voa só em silêncio...
Nele vai o meu coração
perdido por momentos
numa viagem ao passado,
recordações essas
que caiem ao mar
ou esvoaçam, embaladas pelo acaso,
até pousarem numa montanha qualquer
e aí ficarem
a germinar numa outra vida,
nela eu vivo,
eternamente...




Novamente criança


"Novamente criança"


Dá-me de comer, peço-te,
mas a comida
é algo secundário
pois o que me trazes
é amor,
nessa casa, agora vazia,
escuto ainda esses passos,
cheios de suavidade
E esse olhar terno, de insondável sentimento
como a luz que passa na árvore em frente,
a mesma luz, o mesmo vento nas folhas,
os mesmos pássaros a chilrear,
espero ainda aqueles passos,
a anunciar, estou aqui
Viro-me,
vejo-me ao espelho,
surpresa,
sou novamente criança...




terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Imagens do Passado

"Imagens do Passado"


A areia vai caindo lentamente,
olho para baixo
e vejo em cada grão
imagens do passado,
grãos que tento agarrar
mas que escorrem entre os dedos
sem eu querer.
Ainda os vejo
ali ao fundo,
com a mesma vida,
com o mesmo brilho,
imagens em movimento
presentes no presente...
Olho para cima, nuvens carregadas,
e chove, ainda que não me molhe...
levanto o braço e abro a mão
e eis que o céu se abre,
luz impressionante que tudo ilumina
agarro um raio de luz
e lá vou eu,
passado, presente e futuro,
fundido em mim,
finalmente, eu sou.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Pérolas ao luar

"Pérolas ao Luar"


Deitado num mar de pérolas, contemplo o luar,
flutuo suavemente, de braços abertos,
uma brisa morna envolve o momento,
escuto o som do universo,
eis que passa um albatroz, num voo indolente,
Ao longe uma baleia solta um lamento, som de despedida..
Finalmente só...as ondas ecoam tranquilamente,
pego numa estrela cadente e voo pela abóbada celeste,
Toco nas estrelas que soam como notas musicais,
numa sinfonia imemorial e de paz...

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Noite Serena


"Noite Serena"


Chove na noite serena
No Céu, estrelas que olham
tranquilamente cá para baixo,
Vendo o bulício dos homens
que vivem hoje, o amanhã.
Indiferentes a tudo,
Esperando encontrar o passado,
Em fragmentos de lembranças,
Que não voltam mais.
Escuta…. Parou e chuva,
Eis o Arco íris!
Nele eu escorrego
Para os teus braços,
Onde não existe ontem,
Nem amanhã…

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Brisa da Noite

"Brisa da Noite"


Lua que apareces
em tuas colinas me deito
Iluminas a noite
E refletes o meu ser,
Dá-me a mão e anda ver
O barco que se move lentamente,
A criança que sorri
E eleva as suas mãos ao horizonte,
A gaivota que passa,
num voo desenhado
a dizer-me adeus...
Escutas a brisa da noite?
composta por múltiplos sons,
são os sonhos de quem dorme,
feitos de esperanças vãs...

terça-feira, 31 de outubro de 2017

O Bosque

"O Bosque"


Chovem suavemente, gotas de cristal,
No bosque onde tu e eu,
Lançamos pétalas, de todas as cores,
Às deusas antigas que há muito silenciaram,
E em árvores antigas, se tornaram…
Escuta…as fontes que gotejam,
Sussurrando lendas de amor,
E canções de lamentos, cheias de dor,
De quem para sempre, aqui ficou…
Dá-me a tua mão e vê a luz que passa,
E estreita na pedra, onde dançavam,
Aquelas, que o mundo criaram,
Ao som de flautas místicas,
Que não existem mais…

domingo, 29 de outubro de 2017

A ponte da solidão


"A Ponte da Solidão"


Porque me acompanhas, 
na ponte da solidão,
onde nada ressoa, 
apenas um vento indefinido,
onde as flores não crescem, 
nem os pássaros voam,
onde os sonhos ecoam, ao bater do coração.
Nem uma palavra sequer, 
a preencher o vazio de um pensamento,
imaginar a luz, 
é somente uma ilusão...

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Sons do Passado

"Sons do Passado"


Passaram tantos anos, desde que naquela rua fomos crianças alegres,
Em bicicletas esvoaçantes, e risos brilhantes, onde não havia amanhã,
Fome nunca satisfeita de viver,
Cada passo era um poema, feito de notas coloridas nunca antes vistas,
E jamais ouvidas...
Não existia tempo, apenas o momento,
Infinitos que passavam,
Como as gotas da chuva,
Que cai agora na rua deserta,
Onde reverberam ainda, esses sons do passado,
Na gota que cai, na folha que se desprende da árvore
e rodopia suavemente, embalada pelo vento
até pousar gentilmente na calçada,
Onde tu e eu, passámos agora…

Música para adormecer os filhos

"Música para adormecer os filhos"


Lindo menino
Mar imenso, de paz
Olhar, sem fim
Ao fundo, de mim
Sei enfim, o que é amar.

Gestos, serenos
Olhar de luz
Reflexo, da vida
Sem medo, nem partida,
Sei enfim, o que é amar.

Lindo menino,
Flor, sublime
Sentido, perfeito
Do tempo, inteiro
Sei enfim, o que é amar.

Conto de Natal

"Conto de Natal"


“Foi um dia à noite ao chegar a casa, que dei comigo a recordar quando os meus pais eram vivos, e na alegria daquelas noites inesquecíveis em que se juntava a família para celebrarmos o Natal.
Desde que me lembro, sempre me fascinou essa época, a excitação de abrir os presentes, as gargalhadas perdidas na noite e o sabor que ainda hoje sinto dos pastéis que a minha mãe fazia.
Desde esses tempos, que para mim esse dia perdeu o significado, sendo algo de absolutamente banal.
Todas essas recordações pertencem já ao passado e preparava-me para passar mais um Natal sozinho quando fui para o meu quarto e liguei o computador.
Devo confessar que para mim, o computador tem sido algo que substitui um verdadeiro amigo e o meu relacionamento com o mundo exterior.
Passo dias e noites inteiras jogando, sendo isto tudo um refúgio e algo que vinha substituindo a realidade.
Lá fora as ruas estavam desertas e a neve amontoava-se nos passeios. Começava a cair um nevoeiro que pouco a pouco tudo encobria.
Observava ao longe as árvores enfeitadas pela Câmara Municipal quando me sentei ao computador.
Sorri com surpresa ao ver que tinha recebido muitas mensagens de Feliz Natal dos meus amigos virtuais.
Pensava nessas pessoas que todos os dias falava mas que nunca via e senti alguma tristeza.
Qual o meu espanto quando ao tentar ligar-me com alguém, verifiquei que não encontrava ninguém e imaginei-os á volta da mesa com as famílias numa alegre cavaqueira e abrindo os presentes.
Grande tristeza se apossou de mim e preparava-me para dormir quando recebi um sinal que alguém me queria falar.
Corri apressado pelo quarto, liguei o monitor quando vi que enviaram algo e subitamente desligaram.
Desapontado, preparei-me para ler o que pensava ser mais uma mensagem de Boas Festas, quando me espantei ao verificar que era uma imagem.
Ainda hoje não sei quem me enviou aquilo, mas tal modificou a minha vida, compreendendo eu agora o seu verdadeiro significado.
Quis contar-vos esta história incrível mas verdadeira que me aconteceu, para que possais compreender o que realmente é importante.
Na fotografia distinguiam-se duas pessoas sorrindo para a câmara ao lado de uma mesa.
Ao fundo um miúdo brincava com algo ao lado de uma árvore de Natal.
As duas pessoas eram os meus Pais, e o miúdo era eu."

A Página em Branco

"A Página em Branco"


Numa página em branco, passou um dia um lápis,
E deixou a sua marca,
Primeiro timidamente, com erros e hesitações,
Depois mais seguro, certo da sua intenção
Caminho e destino…
Até certo dia, já gasto e cansado,
Sem espaço para mais, exceto um pequeno,
Insignificante espaço em branco,
Olhou para cima e resumiu
Na palavra
Amor…
Essa página, levada pelo vento,
Perdida da vista, sem rumo nem destino,
Onde está agora….
No livro da vida, talvez?

A Folha caída

"A folha caída"


Na berma daquela estrada movimentada, estava uma árvore só.
Enquanto os carros passavam e pessoas caminhavam apressadamente, soltou-se uma folha seca, que rodopiou suavemente, e embalada pelo vento, pousou no chão.
Que história é a tua, folha caída, desde que nasceste, até agora, calcada pelos pés de quem passa...
Essa folha, uma entre tantas, que ali nasceu, desenvolveu, secou e caiu suavemente, e por fim, no chão para sempre ficou, na indiferença de todos, a ti digo-te,
A tua forma, cor e beleza, nunca mais encontrei….

O Trabalho

"O Trabalho"


Triste fado da Nação
Que não tem do seu passado
A menor recordação
De qualquer antepassado

Muita gente vai sem tino
À vida sem contribuir
Pelo labor do vizinho
Açambarcam o seu porvir

O trabalho é uma bênção
Ainda que no dia-a-dia
Aparente a ilusão
De não ter uma alegria

Esperança

"Esperança"


Naquele momento breve
Passou lesta uma emoção
Pois uma criança sorriu
No meio da multidão

E na emoção que passou
A rosa vermelha se abriu
E como uma pomba branca
No ar seu perfume subiu

E nesse segundo breve
No sorriso da criança
Viveu-se na multidão
Uma nova esperança

Mensagem do Além

"Mensagem do Além"


A Vida é breve, mas aquilo que vivi, foi eterno.
Antes de eu nascer, pertencia á eternidade. Agora que parti, reencontro outra vez a eternidade. Aquilo que vivi, vivi  para sempre, e aquilo que amei, amei eternamente.
Vejo-te chorar mas não fico triste, pois agora sim, vejo que as tuas lágrimas irão transformar-se em alegria, assim que nos encontrarmos.
Sabes que na eternidade, uma vida inteira dura menos do que um segundo, mas nos segundos que aí vivi, e no bem que deixei, vivi uma eternidade.
Agora sim compreendo, que nunca existiu ninguém igual a mim no mundo, nem existirá jamais, pois todos somos obras primas de Deus e assim, temos um valor incalculável, não aos olhos dos homens, mas aos olhos Dele.
Pudesses tu ver o que eu vejo, e não terias medo. Daqui tudo é belo, e da própria tristeza e mal, nada há que não se venha a transformar em bem.
Eu ouço tudo aquilo que me dizes e respondo-te, não da forma imperfeita dos homens, mas na única linguagem que agora falo, a do amor.
A vida na terra, é como que um sonho que passa a correr, mas agora acredita, estou acordado, por isso digo-te até breve…

Os dias lá passam

"Os dias lá passam"


Os dias lá passam
E eu sem saber
O que hei-de dizer
O que hei-de fazer

Em cada instante
Que te vejo passar
Encontro enfim
Razão de esperar

Julgas saber
O que estou a pensar
Mas digo-te agora
Estás-te a enganar

Olha no céu
A nuvem que passa
Parece uma imagem
Mas não passa de nada

Serás como a jarra?
Que quebra no chão
De tanto ir á fonte
Ou espero em vão?

A rosa caída...

"A rosa caída"


Vi uma rosa caída no muro de um jardim.
Uma rosa, com as pétalas escurecidas
Algumas já levadas pelo vento, para onde, não sei...
Nessa rua movimentada, no meio da multidão e do trânsito,
esquecida nesse muro, eu reparei em ti...
Certamente pensas que não foste importante na tua vida breve,
pois nesse jardim, eras apenas mais uma, com a mesma cor, a mesma forma
, cheiro e tamanho, no meio de tantas outras iguais a ti.
Quando eras apenas um botão, e não tinhas visto o mundo, tinhas tanta esperança
de poder ser diferente.
Assim que ficaste uma flor, julgaste ser igual a tantas outras…
Mas foi ao sentir ao longe o teu perfume, que um par de namorados deu o primeiro beijo,
foi ao ver-te de relance, que um idoso recordou o seu primeiro amor e sorriu,
com o teu néctar, abelhas polinizaram um jardim distante, onde uma criança brinca agora,
na tua beleza alguém reparou, e esqueceu a tristeza que sentia.
Rosa caída, no muro de um jardim,
um pouco desfeita e levada pelo vento,
Fizeste alguém feliz…

Natal

"Natal"


Há muito, muito tempo,
Avistaram grande Luz,
Em Belém, no firmamento,
A dizer, nasceu Jesus!

Todo o povo saiu a olhar,
Essa Luz de esplendor,
Mas não foram adorar,
O Menino Redentor.

Vamos todos festejar
O Natal que aí vem,
Com o Amor a reinar,
E com muita Paz também.

Caminhando na rua

"Caminhando na rua"


Sem saber o que fazer
O homem decidiu andar
Contemplando o céu
Pensando em quem amar

E enquanto caminhava
Nos rostos ia olhando
E para sua surpresa
Tudo se ia modificando

Pois em cada um de nós
Existe uma luz brilhante
Se o coração aberto
Estiver expectante.

O Amor

"O Amor"


Amiga,
Deita-te comigo, devagar…
Dá-me a tua mão,
E vem comigo ver naquele lago,
Os cisnes que passam ao longe, entre a névoa, suavemente...
Vem pintar comigo, aguarelas de cristal!
E acordar num campo de flores, de todas as cores,
Vem viver aquele instante...
Em que os meus olhos, alcançaram os teus
Num mundo sem tempo,
Eternamente…

Violeta

"Violeta"


A vida é um segundo
mas a amizade que tenho por ti, é eterna!
amiga, não te esqueças...que o arco iris nasce sempre
que olhes para o céu......
Sonhei um dia que caminhava nas nuvens brancas, ouvi
o canto dos anjos e o som das harpas, as nuvens
afastando-se ao sabor do vento,
adormeço...
Olho em volta e vejo a escuridão,
Sinto mãos a empurrar-me e não vejo ninguém...
Bate-me uma brisa suave na face, num instante lembro-me
do grito das águias voando no desfiladeiro,
cheiros de milhares de sentidos se sentem num instante..
Não sentes amiga, a brisa soprar perto de ti
a cada instante?
Quando não vires......sente.....que sou eu ao teu lado....

A Alguém que já não é...


"A Alguém que já não é"


Acordei de noite. Onde estás?
O vento passa nas faces da lua...atenta.
As árvores agitam-se...frio,
escuro...
Uma recordação...traz-me de volta
Tu
a tua cara...suave
O teu olhar...lancinante
Ouço a tua voz. Silenciosa.
As tuas mãos ...onde estão?
Durmo...
Um novo sol nasceu
Sem ti...

Flautas

"Flautas"


Falei contigo dias sem te ver
não te vi com a imaginação
mas vi com o coração.....
o teu espirito voar com as águias sobre as montanhas
vi um jardim de milhares de cores e sensações....
vi um bosque místico, o som de flautas a ouvir-se ao longe
Não vês amiga, a terna amizade que poderei ter por ti?
vive um sonho!
na realidade....

Imaginação

"Imaginação"

Olhos castanhos,
Fecha-os e vê,
a cada instante
o por do sol, quente, escurece, lentamente,
as gaivotas levantando da praia, o som ao longe,
fecha os olhos, respira fundo,
vê a criança sorrindo no colo da mãe,
sente a cada instante, o cheiro do orvalho ao amanhecer,
a terra molhada, o piar dos pássaros...
clareia o dia
liberdade
o tempo passa lentamente
em cada instante
sente a felicidade

Um Sonho em Azul

"Um Sonho em azul"


Um sonho em azul,
coberto de névoa...
uma flor...á escuta do vento,
um pássaro que voa ao longe, sozinho...
o teu olhar,
ao fim da tarde,
tão lentamente...
levou-o o mar...
num sussurrante suspiro.

Sonho Enevoado

"Sonho Enevoado"


Deitei-me num mar
de pétalas azuis, em que
alcancei os teus olhos,
com uma aura de silêncio e paz.
deitada te vejo a sorrir, distante
no meio da multidão
dizes-me sussurrando...
Porque não existem dois
malmequeres iguais?