quarta-feira, 8 de setembro de 2021

O Barco

 


"O Barco"

Quis procurar a terra prometida,

em mares já dantes navegados,

repletos de monstros e quimeras,

mascarados de luz 

e banhados em perfumes 

quentes e exóticos,

nessas águas que sabia serem escuras, 

escuras de um asco peganhento

que se agarrava ao casco,

num mar sem vento,

e ainda assim o barco ia

impelido pela névoa escura,

rápido, muito rápido,

sem hipótese de voltar para trás,

até se desmanchar completamente

numa praia incógnita,

em pedaços dispersos e sujos,

que rapidamente foram cobertos pela areia,

na esperança do esquecimento

da omnisciência intemporal,

que tudo regenera, 

em paciência infinita,

impelindo para outros mares,

criados antes mesmo 

da madeira que fez o barco ser árvore,

para ele navegar, e só ele.