quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Padre Américo

 


"Padre Américo"


Julgávamos ser um homem

Aquele que caminhava

Procurando por aqueles

Que ninguém via, conhecia sequer,

Chamado sonhador, num trabalho sem fim

De frio e fome, estendia a mão,

Vestindo ele a roupa dos envergonhados,

Dizia procurar tesouros, nas barracas abjetas,

E todos se riam,

Não sabíamos nós,

Que os tesouros eram de carne e sangue,

Homens em potência, perdidos no presente,

Pequenos salvadores da humanidade no futuro,

Julgávamos ser um homem, 

Mas era feito de luz,

Nobre timoneiro,

Que já não está ao leme,

Mas a barca vai, segue o seu caminho,

Soprada pela brisa,

Que ninguém sabe de onde vem

Mas o rumo é certo, para onde vai.


sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

O Salto em frente


"O Salto em frente"


O vento agreste,

nessa noite fria,

na cama vazia

afogado aí,

como num mar revolto

onde nem Deus caminhava

nem estendia a mão,

viu essa tímida luz

e agarrou-a.

Acordou criança,

como naquela manhã

em que o sol

tocava no chão do quarto,

e se levantou expectante,

para essa praia

em que os grãos não eram de areia

mas de luz, calor, 

de um doce sabor,

aí permaneceu

até ser velho

e ainda assim criança,

num  perpétuo presente,

amor e eternidade,

como numa história jamais acabada.