sábado, 30 de outubro de 2021

A vendedora de flores



"A vendedora de flores"

A vendedora de flores,

Desceu pela rua, bateu às portas,

E ninguém abriu, ninguém ouviu,

E lá continuou, trazendo no cesto, cravos, rosas e jasmim,

De cheiros inebriantes e cores vibrantes,

Mas nada entregou nessas casas,

Onde se cheirava a suor, 

E em outras tantas a pocilgas e lixo,

Ninguém a via sequer, 

Lá de dentro, dos quartos sujos e escuros,

De tanto se olharem ao espelho,

De tanto falarem ao mesmo tempo.

Até que parou na minha frente,

E depositou nas minhas mãos um ramo, 

Sem pedir nada em troca, 

Sem nada falar,

E com um breve afago, 

foi embora, até desaparecer de vista.

Nunca mais a vi,

As flores estão guardadas

Entre as páginas de um livro

Que folheio raramente,

E o perfume do ramo que ela me deu,

Está sempre nas minhas mãos.






domingo, 24 de outubro de 2021

Uma história



"Uma história"

Ontem ao cair da noite,

Pediram-me um texto,

De amor, de dor, do que for,

Mas sei que nada vão entender

Pois o que tenho a dizer, só eu sei,

Só eu entendo,

Só eu conheço os verbos, 

e principalmente os adjetivos,

Toda a gramática, fui eu que inventei,

Língua estranha que só tem um nome 

Um só,

Escrita em pressentimentos, 

Expressa em sensações, 

Transmitida num único olhar,

No entanto, poderia escrever sem parar,

Durante horas, e ainda assim

nada seria entendido,

Pois para ligar os adjetivos aos verbos

e dar sentido a tudo,

É preciso conhecer o nome.

Conhecer sem reservas,

Talvez Amar?

E esse nome,

Comum, entre tantos,

Com tão poucas letras,

Letras que todos conhecem

mas não as sabem combinar,

Ou se as combinam, distraídos, passam adiante,

Lendo algo banal,

Não conhecendo assim toda a história,

que eu conheço, 

ainda que não seja a minha.