"A vendedora de flores"
A vendedora de flores,
Desceu pela rua, bateu às portas,
E ninguém abriu, ninguém ouviu,
E lá continuou, trazendo no cesto, cravos, rosas e jasmim,
De cheiros inebriantes e cores vibrantes,
Mas nada entregou nessas casas,
Onde se cheirava a suor,
E em outras tantas a pocilgas e lixo,
Ninguém a via sequer,
Lá de dentro, dos quartos sujos e escuros,
De tanto se olharem ao espelho,
De tanto falarem ao mesmo tempo.
Até que parou na minha frente,
E depositou nas minhas mãos um ramo,
Sem pedir nada em troca,
Sem nada falar,
E com um breve afago,
foi embora, até desaparecer de vista.
Nunca mais a vi,
As flores estão guardadas
Entre as páginas de um livro
Que folheio raramente,
E o perfume do ramo que ela me deu,
Está sempre nas minhas mãos.